Construindo um Auditor Melhor: Seja Mais Preguiçoso
05/07/2024
Ser o tipo bom de preguiçoso não compromete sua responsabilidade – e pode melhorar o desempenho.
Como auditores, muitas vezes nos orgulhamos – e com razão – de nossa atenção aos detalhes e de nossa capacidade de nos aprofundar. Queremos trabalhar duro e entregar uma cobertura adequada. Eu diria que há espaço para ser mais preguiçoso – como catalisador para a inovação, definição inteligente de escopo e avaliação coordenada. Tim Ferriss, autor de “The 4-Hour Work Week”, escreveu: “Fazer menos trabalhos sem sentido, para que você possa se concentrar em coisas de maior importância pessoal, NÃO é preguiça”. Compreender a diferença entre essa “boa” preguiça e a pura preguiça (um abandono do dever) é vital.
Para ser claro, não estou pedindo que deixemos sem auditar algo que seja significativo ou materialmente arriscado. Nossas normas profissionais e ética pessoal exigem que façamos trabalho suficiente para opinar sobre os principais controles dos riscos e objetivos mais críticos. Não me refiro a fugir da responsabilidade ou pegar atalhos. O que quero dizer é que devemos questionar a busca obstinada por auditar demais, com frequência demais e profundidade demais.
Auditar demais ou com muita frequência pode levar a retornos decrescentes. Não compliquemos ou analisemos demais. Aqui estão alguns sinais de que você pode estar exagerando:
• Você está perdido em tantos detalhes: Se você gasta mais tempo em pequenos detalhes do que no cenário geral, você pode estar auditando demais. Não precisamos provar toda opinião que temos.
• Suas constatações são redundantes: Se seu trabalho apenas confirma o que já é sabido, sem acrescentar novos insights, você precisa reavaliar seu foco. Não caia na armadilha de dizer à gestão o que ela já sabe. A gestão identificou um problema? Ótimo! Dê-lhes crédito, concorde quanto à correção para acompanhamento futuro e siga em frente.
• Você repete a mesma auditoria: Além dos requisitos regulatórios, se você estiver fazendo os mesmos testes da mesma forma três anos após a última auditoria, será que você está auditando por hábito, em vez de auditar com base no risco real? E para quais aspectos você pode confiar no monitoramento e testes da primeira e segunda linhas?
Saber o que não auditar é tão importante quanto saber o que auditar. Veja como você reconhece quando não está agregando valor:
• Auditar aspectos imateriais: Se não impacta materialmente o negócio ou o cliente, não é um controle chave e pode não precisar de sua atenção. Se uma falha de controle não levaria a impactos materiais, por que gastaríamos tempo nisso?
• Testar além da constatação: Se você já identificou um controle mal projetado, não operacional ou ineficaz, interrompa os testes, a menos que esteja avaliando ações corretivas ou comprovando danos.
• Ignorar a avaliação de riscos da gestão: Alinhe sua auditoria com áreas de risco — especialmente, parceiros da segunda linha em riscos, conformidade e segurança de TI; caso contrário, seus esforços poderão não estar alinhados às necessidades do negócio.
Adotar a tecnologia é crucial para uma auditoria eficiente. Aqui estão alguns sinais de que você pode não estar usando a tecnologia o suficiente:
• Você ainda gosta de usar arquivos impressos: Se você ainda prefere fazer cálculos manuais ou se você se pega extraindo amostras demais em vez de populações, você pode estar perdendo oportunidades de automação.
• Você acha que não é um analista: Você não precisa saber programar para usar tecnologias básicas, como Excel ou PowerBI. Você precisa saber o suficiente para permitir que seu computador faça o trabalho pesado para você.
• Você não adota o que a gestão já usa: A colaboração é fundamental e as plataformas modernas podem facilitar uma melhor coordenação e inovação. Talvez seja necessário testar os controles quanto à precisão de seus dashboards, mas não é necessário refazer a maioria dos cálculos.
Um Compromisso com a Excelência
Ser o tipo bom de preguiçoso não compromete sua responsabilidade – em vez disso, é uma alavanca para melhorar seu desempenho pessoal. A filosofia de Tim Ferriss lembra-nos que fazer menos esforços sem sentido pode levar a uma maior eficácia pessoal. Na auditoria, isso significa um foco mais concentrado no que é vital. E parar de fazer trabalhos menos importantes garante que, ao longo de um ano, você também realizará um volume maior de trabalhos vitais.
Como profissionais, deveríamos olhar para nossos próprios processos com o mesmo olhar crítico que usamos para avaliar a gestão. Onde nos falta eficiência, escalabilidade e velocidade? Onde estamos falhando em atender às necessidades de nossos stakeholders? Ao fazê-lo, deveríamos nos questionar sobre todas as formas como realizamos tarefas desnecessárias, onde duplicamos esforços e onde não nos libertamos das práticas de 20 anos atrás. A tecnologia de hoje, por si só, nos dá a oportunidade de sermos preguiçosos – deixar de mudar nossas práticas é como continuar confiando em mapas de papel em um mundo de GPS, ou recusar-se a usar o corretor ortográfico, simplesmente porque você se considera bom na gramática.
Um brinde à arte de ser “preguiçoso” na auditoria – evitando complexidades desnecessárias, promovendo a colaboração e a inovação, e mantendo sempre o nosso propósito. Ao abraçar esta sabedoria, redefinimos não apenas a forma como auditamos, mas também a forma como agregamos valor e excelência à nossa profissão. Nossos resultados são mais importantes que nossos esforços, afirmando que a preguiça não é uma desculpa, mas um catalisador para maior eficiência, inovação e segurança.
Então, seja mais preguiçoso. Que nos certifiquemos de que nossos esforços correspondam aos riscos subjacentes. Não faça nada além disso.
David Dufek, CIA, CFE - É auditor interno chefe de Auditoria Interna e Consultoria de Risco na Principal em Des Moines, Iowa.
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Este documento foi traduzido por INSTITUTO DOS AUDITORES INTERNOS DO BRASIL em JUNHO DE 2024.